Taylor Momsen e Joan Jett conversam sobre o mundo do rock

Taylor Momsen e Joan Jett conversam sobre o mundo do rock


Taylor Momsen
e Joan Jett se uniram no Dia Internacional das Mulheres para uma conversa com a revista Kerrang! sobre as mulheres no mundo do rock, conselhos e reflexões. Confira a tradução dessa conversa na íntegra abaixo: 

Uma conversa com Joan Jett e Taylor Momsen: “Até as mulheres controlarem o dinheiro, o teto de vidro ainda vai estar lá.” 

Joan Jett e Taylor Momsen sentam-se para uma conversa inspiradora sobre a indústria musical, percepções, orientação de mulheres e como instigar mudanças reais. 

Nem Joan Jett nem Taylor Momsen precisam de uma longa introdução: ambas as musicistas foram figuras de destaque no mundo do rock em suas décadas. Joan começou nos 70 quando as mulheres eram inexistentes na música de hard rock, conquistando um espaço para si e para futuros músicos. Taylor passou os anos 2010 liderando uma das bandas de alternative rock mais proeminentes da América, The Pretty Reckless. Até a pandemia nos atingir em março de 2020, elas viviam essencialmente como músicos em turnê em tempo integral. É tudo o que elas sabem desde os 15 anos. Mas, pela primeira vez em anos, elas precisaram ficar paradas. 

Como elas se conheceram originalmente permanece um mistério, mas foi na época em que Joan foi escolhida para produzir o álbum de estreia de The Pretty Reckless, Light Me Up, o que infelizmente não aconteceu devido a conflitos de agenda, que elas permaneceram em contato. 

Embora possam estar separadas por gerações, elas estão percebendo que com a idade vem uma sabedoria valiosa. “Você não é velha assim”, Taylor diz a Joan. “Em termos de personalidade você pode não achar isso”, ela responde:“ Mas ainda assim, quando você chega aqui e percebe o quão jovem os 20 são, quão jovens os 30 são, e como você não está nem mesmo começando a se conhecer em tudo até que você esteja nos 40. Sério." 

Na noite do Dia Internacional da Mulher de 2021, a Kerrang! juntou-se a dupla nessa conversa. Elas falaram sobre quebrar o teto de vidro do rock, deram conselhos para mulheres que sonham em quebrar tudo com música pesada e contaram como lidaram com decepções profissionais... 

O teto de vidro do Rock'N'Roll.

Joan: As atitudes não mudaram tão radicalmente quanto as pessoas gostariam de acreditar. Eles acreditam: "Nós chegamos tão longe, as mulheres são iguais", mas se você vive neste negócio - e aposto que inúmeras mulheres irão lhe confirmar - as coisas não mudaram muito. Mas há uma aparência de igualdade, o discurso de: "você é igual". Mulheres e meninas têm muito mais ferramentas agora: mídias sociais, internet, você pode divulgar sua música para as pessoas de maneira mais fácil e barata e pode alcançar o mundo. Em The Runaways, não tínhamos chance de fazer nada parecido. Éramos muito limitadas. 

Musicalmente eu ainda tinha muita resistência até bem recentemente. Esse teto de vidro está vivo e bem forte, mas eu sinto que ele estala um pouco mais a cada vez. Eu penso que quando cheguei ao Rock & Roll Hall Of Fame em 2015 foi um grande negócio. Você simplesmente não sabe quantas pessoas notam ou não. E, sabe, nunca foi algo que eu desejei. Não me juntei a uma banda para entrar no Hall da Fama. Mas eu não posso explicar isso... eu não me senti "vista" desde "I Love Rock'N'Roll". Desde o início das Runaways, onde fui levada a sério.  

Acho que até que as mulheres possam controlar o dinheiro - controlem os dólares e quem os recebe, para onde vai o dinheiro - esse teto ainda estará lá. E isso não quer dizer que as mulheres não abrirão necessariamente outras portas para outras mulheres o tempo todo. Você simplesmente não sabe. 

Taylor: Concordo plenamente com isso. Quando formei a The Pretty Reckless, eu tinha 14, 15 anos. Era difícil ser levada a sério. Antes mesmo de terem ouvido ou visto, as pessoas já ignoravam, antes mesmo de darem uma chance. Quero dizer, foi em 2008. Nosso primeiro disco foi lançado e nunca foi tocado nas rádios da América. Tecnicamente, foi lançado aqui, mas nunca realmente teve uma chance. Foi um momento muito estranho em que me senti muito... Acho que nem julgada é a palavra certa. Foi tipo: "Wow, ok, você simplesmente é desprezada". E ao mesmo tempo eu poderia olhar para pessoas como você, Debbie Harry e Suzi Quatro e pensar: "Elas fizeram isso". E elas fizeram isso em um período onde isso era desconhecido. Isso me deu um impulso, porque eu preciso desse rock'n'roll. Sempre digo que tem essa qualidade de cura. É como alimento para a alma. Você foi uma das pioneiras que realmente me permitiu fazer isso como profissão.  

Para chegar ao ponto de as mulheres estarem no controle: nosso primeiro álbum, como eu disse, foi tecnicamente lançado na América, mas não foi encorajado, não foi bem recebido, foi essencialmente rejeitado. Fiquei muito infeliz com isso. Comecei a trabalhar com gravadoras independentes e a licenciar todos os meus discos para que pudesse manter o controle, porque isso era algo muito importante para mim. A maneira como é distribuído, a maneira como você deseja divulgá-lo, como você deseja comercializá-lo, pode ser uma conversa colaborativa que temos, mas não vou apenas assinar minha vida e ter você - uma gravadora ou uma pessoa, um homem ou alguém atrás da cortina - me dizendo como me expressar. Porque isso é o rock'n'roll, é a liberdade definitiva. 

Quando você estava falando sobre mulheres ganhando dinheiro e sendo responsáveis ​​por ele lembrei que minha empresária é uma mulher, minha advogada é uma mulher... 

Joan: Elas são as que fazem as decisões sobre o dinheiro e para onde vai. Isso deveria acontecer não apenas na música, mas em todas as áreas. Eu descobri em The Runaways e com The Blackhearts que fora da América, em países com as mesmas visões que a América sobre as mulheres, havia um certo tipo de aceitação ou curiosidade. Ou algo que me parecesse menos hostil em muitos lugares. 

Taylor: Menos hostil realmente é uma boa definição. 

Joan: Porque isso não significa que eles gostaram de você, mas eles não estavam jogando coisas e te chamando de nomes. Eu não sabia por que era tão importante para o público divulgar esse tipo de visão. Apenas saia se você não gostar. Na Grã-Bretanha, há uma grande variedade de música infundida na vida britânica. Acho que mesmo que o público lá seja difícil, eles ainda assistirão de forma crítica. Eles não iriam simplesmente cortar você, eles lhe dariam um motivo. 

Taylor: Eu senti isso quando lançamos o nosso primeiro álbum, nós fomos para o Reino Unido e a reação não poderia ser mais hostil e preconceituosa, porque nós estamos falando sobre o privilegiado tablóide no Reino Unido de 2010. Eles gostavam de te colocar lá em cima para derrubar depois. Mas a resposta orgânica dos fãs foi tão entusiasmada, tão genuína e veio de um lugar sem julgamento. 

Tutoria de outras mulheres.

Joan: Não é tão formal como: "Bem, eu sou sua gerente, você é a aluna". Nunca fui uma mentora intencional. Taylor e eu trabalhamos juntas profissionalmente, sabe, tocando no palco juntas, fazendo músicas juntas, essas coisas”. 

Taylor: Eu tenho mentores que eu nunca sequer conheci, músicos que eu nunca conheci na minha vida, e eles nem estão mais vivos neste planeta. Mas para mim eles são mentores porque eu ouvi a música deles e me identifico com isso, eu aprendo com isso. Um mentor não necessariamente envolve algo que alguém disse a você. É comunicação e isso pode ser feito através da música. 

Joan: Fiz amizade com Bikini Kill em 90 e escrevi canções com a vocalista, Kathleen Hanna. Eu diria que fui uma espécie de mentora para ela porque acho que ela também era fã de Runaways. Eu me sinto muito segura em dizer isso, ela provavelmente ficaria bem se eu dissesse isso. Produzi suas três melhores músicas. Eu estava lá exatamente quando isso estava acontecendo. Você sabe quando está no momento e nem percebe que está nele até que ele desapareça, então você fica: "Uau, cara, isso foi um momento especial". 

Conselhos de vida para um eu mais jovem.

Joan: Não importa o que você quer ser - e isso pode mudar algumas vezes antes que você tenha realmente certeza - certifique-se de ir para o que você quer ser na vida, porque todo mundo quer lhe dizer quem você é, se você é um cara ou uma garota, mas especialmente se você for uma garota. Qualquer coisa que você queira ser, na maioria das vezes as pessoas dirão: "Por que você quer fazer isso?" Irão simplesmente fazer caretas sobre o fato de que você não pode fazer as coisas, ao invés de falar: "Uau, soa interessante, ir por esse caminho". O salto imediato para todos é sempre: "O que você está fazendo? Você está louco? Você não pode fazer isso?" Parece ser a configuração padrão para as pessoas quando você fala sobre seus desejos e o que espera para sua vida. Não deixe ninguém detê-lo. 

Se você tentar e não conseguir e falhar, pelo menos você tentou. E isso realmente significa muito. Se você não tentar, você chegará ao fim da sua vida, olhará em volta e irá pensar: "Cara, eu deveria ter feito aquilo e se eu não conseguisse, eu teria descoberto alguma outra coisa, mas eu não tentei". Eu vi e conheci muitas pessoas que não fizeram essa escolha, seja o que for, e elas não estão felizes. Conheço pessoas que tentaram e talvez não chegaram onde esperavam, mas podem viver com elas mesmas.  

Meus pais me disseram quando eu tinha cinco anos que eu poderia ser qualquer coisa que quisesse na vida, e eu acreditei neles, e acho que isso foi em grande parte quando o professor de violão disse: "As meninas não tocam rock". Eu não fiquei: "Oh merda, as meninas não tocam rock and roll". Eu fiquei tipo: "Você está brincando comigo? As meninas tocam violoncelo e Beethoven e violino e Bach na minha escola. Você está me dizendo que as meninas não sabem tocar guitarra?! Não, o que você está me dizendo é que as meninas não podem tocar rock and roll porque é sexual e as mulheres não podem possuir sua própria sexualidade". Eu sabia que era uma grande coisa mental, eu sabia disso aos 13 anos. Pessoas que são pais aí fora, vocês tem que encorajar suas crianças. Deixe-os encontrar seu próprio caminho e esteja lá para apoiá-los com o que quiserem. Eles ficarão bem, mas deixe-os ter pelo menos essa parte de suas vidas. 

Taylor: Eu concordo totalmente com tudo isso. A única coisa que gostaria de acrescentar é que você pode fazer o que quiser e isso deve ser incentivado, especialmente para as mulheres. 

Joan: Bem, você pode tentar ser qualquer coisa que você quer ser, mas não há garantias. Esse é outro problema. 

Taylor: Exatamente, essa é a coisa. Sucesso é uma palavra que está muito por aí e é tipo: O que isso significa? Sucesso comercial? Como você define sucesso? Para mim, é quando faço algo de que tenho muito orgulho. Se der certo, é ótimo pra caralho e eu fico muito grata, mas se você não encontrar sucesso internamente... Quando estou perdida, tendo a me voltar para dentro e perguntar "Onde eu quero ir?" Isso não significa para onde quero ir publicamente e com minha carreira, é como quero me sentir e me ver quando me olho no espelho. 

O incentivo é tudo. Sempre fui incentivada a fazer o que queria fazer. Eu cresci em uma casa onde meu pai era um grande fã de rock and roll e me apresentou a bandas desde muito jovem. Do ponto de vista pessoal, nunca tive limitações impostas a mim. Não acho que sou boa em dar conselhos, mas se alguém me perguntar - especialmente sobre música - se você ama música e tem esse desejo inexplicável em palavras, então vá em frente, mas não espere que o resto do mundo concorde com você. Você vai ter que lutar por isso e é uma batalha que dura a vida toda. Não vai ficar mais fácil com o passar do tempo. Então, se você está fazendo isso pelos motivos errados, por alguma validação externa, acho que vai acabar se sentindo um pouco fodido. Nesse caso, faça música como um hobby. 

Joan: Se você está fazendo isso para ser uma estrela, então é a carreira errada. 

Taylor: Você sempre vai ficar desapontado. 

Superando Decepções Profissionais. 

Joan: Quando The Runaways acabou foi devastador para mim. Eu senti como se fosse meu bebê, eu tinha certeza de que funcionaria e as pessoas amariam a banda. 

Taylor: Eu amo! 

Joan: Eu simplesmente não entendo. Mas conforme a banda ficava mais velha, a direção de todas nós começou a divergir. Eu estava preocupada em ser demitida da banda que comecei, então pensei: Vamos apenas terminar este álbum e acabar. Foi definitivamente como uma morte e a primeira com a qual eu lidei porque ainda não tinha nenhum morto. Então, eu não sabia como lidar com isso. Festejei demais, bebi demais, fiz muitas outras coisas. Não foi bom. Realmente não foi bom. Então conheci Kenny [Laguna, gerente e parceiro criativo] no verão de 79. 

Como eu saí disso? Tinha muito a ver com alguém que acreditou em mim e esse alguém foi Kenny. Ele achou que seria fácil me ajudar, conhecia gente, tinha amigos e pensou: "Alguém vai dar-lhe um negócio". Fomos a todos, a cada favor que Kenny pudesse pedir. Mandamos cartas para 23 gravadoras, mandamos I Love Rock'N'Roll, Crimson And Clover, Do You Wanna Touch Me, Bad Reputation e uma música chamada You Don't Own Me. Recebi 23 cartas de rejeição dizendo: "Não há músicas aqui, diga-lhe para abandonar a guitarra, desculpe. Ela não é o nosso tipo de artista". Então, ou eles não ouvem as fitas que recebem ou não conseguem reconhecer sucessos. Provavelmente as duas coisas. 

Taylor: Você provou que eles estavam tão errados (risos). Cada música dessas é um sucesso. 

Joan: Fizemos o nossa primeiro merch e as pessoas não vendiam álbuns fora do porta-malas de seus carros, ninguém nunca tinha ouvido falar disso. Fizemos isso porque foi nosso primeiro escritório de gravadora. Era a Blackheart Records, o porta-malas do Cadillac de Kenny. 

Taylor: Isso é tão rock and roll, é sobre isso que se trata. 

Joan: Mas não foi uma escolha, foi uma necessidade. 

Taylor: Mas tornou-se uma parte de você, e em algum momento se fundiu com você e se tornou a sua identidade. Todas as suas histórias são legais, mas essa história é legal. Eu me sinto muito mal pelas pessoas que não sentem o rock and roll. Não entendem o poder dessa música. Não é apenas agressão, é vulnerabilidade, é feminilidade. Tipo, a feminilidade é uma grande parte que está faltando, especialmente agora, e não quero dizer que não haja bandas com vocalistas femininas o suficiente, quero dizer apenas o aspecto da feminilidade do rock and roll. É muito impulsionado pela testosterona agora. Você está perdendo todo esse outro elemento da música. 

Fiquei desapontada comigo mesmo por subir no palco e não estar no meu melhor. Tive momentos fugazes de decepção ao longo da minha carreira e, pelo menos para mim, tento superá-los o mais rápido possível e ir para o próximo. Houverão dias ruins, acredite nisso. A decepção faz parte da vida. Você pode olhar para trás e revirar minuciosamente tudo o que faz ou pode seguir em frente. Dormir e descobrir amanhã. 

Tradução: The Pretty Reckless Brasil.

Fonte: Kerrang! 

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